Lá estava ela novamente. Sentada no sofá de seu apartamento, zapeando pelos canais na televisão, sem se prender a nenhum em especial. Seus pensamentos estavam longe, coisa que ela já estava acostumada, pois era rotina nas últimas semanas. Na realidade, fazia cinquenta e sete dias que ela não ouvia mais o barulho da chave na porta anunciando a chegada de certo alguém. Foi tirada de seus devaneios com os ruídos de um trovão, anunciando a tempestade que estava por vir. Então tomou consciência de que, desta vez, não haveria ninguém para abraçá-la se sentisse medo no meio da noite, coisa que geralmente acontecia quando trovoava demais. Droga, já estava perdida em pensamentos e lembranças outra vez!
Estava ficando ensurdecedor. A chuva, os pingos batendo no vidro da janela, os trovões. Os lampejos de luz em meio à escuridão da noite a estavam cegando. O corpo todo doía de uma forma que ela achou que não doeria mais. Mas, em desastres amorosos, ela tinha PhD. “Daqui a dois meses, estarei assim por outro, aposto.” Ela achava que com ele seria diferente dos outros, ele era tão... ele! Tão perfeito, compatível com ela! Havia uma sintonia que ela nunca sentiu antes... Mas pelo visto, ele não parecia sentir o mesmo.
Levou um susto ao ser novamente tirada de seus devaneios. Mas não foram os trovões que a assustaram.
Um barulho conhecido, agradável, reconfortante. Esperança tomou conta do seu corpo.
Permaneceu imóvel no sofá da pequena sala, a televisão já desligada. A chuva cessou. Completo silêncio.
Ela sentiu a presença na sala. Ela sabia quem era. Ela conhecia aquele aroma de perfume, cigarro e agora, roupa molhada.
“Eu acho que devíamos conversar. Eu... eu senti sua falta, você também sentiu a minha, querida?”
De repente não doía mais.
